O BAIXINHO

 

ALZIRO era de pequena estatura; cerca de 1,55 m.

Usava sapatos de salto e solado bem grosso, para aparentar um tamanho mais avantajado.

Não conseguia conviver muito bem com essa deficiência física, que, por sinal, era bastante proporcional. Apenas Alziro detestava olhar para cima para falar com as outras pessoas.

Inteligente e capaz, ocupava o cargo de Supervisor da CREAI (Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil) em Curitibanos.

Era mais temido que respeitado pelos seus subordinados que não perdiam oportunidade de fazer chacota com o chefe.

O balcão de atendimento da CREAI vivia atopetado de agricultores, pois naquele tempo (década de 60) o Banco do Brasil emprestava dinheiro para a agricultura. Não era como hoje que o Banco do Brasil, aliás como todos os demais bancos, obtém lucros, extorquindo dinheiro de seus clientes de todas as formas possíveis e imagináveis.

Como todos os contratos tinham que ser datilografados um a um, as operações de crédito, não raro, demoravam vários dias para serem liberadas. Por essa razão, era comum um número muito grande de pedidos de informação, tanto por parte dos colonos pretendentes ao crédito, como de vendedores de máquinas e insumos, preocupados em saber do andamento do pagamento dos bens vendidos através de financiamento.

Foi num desses dias, particularmente atribulado, em que Alziro não conseguia conferir os contratos que se acumulavam sobre sua mesa, dado o grande número de pedidos de informações e de solicitação da sua presença para resolver os mais variados problemas: liberação de créditos, recebimentos, juros moratórios, multas, desvio de crédito, etc - que chegou ao balcão um vendedor de adubos, daqueles especialmente insistentes e se dirigiu a Alziro:

- Psiu! Psiu! Ô, baixinho! Psiu, baixinho!

Alziro, cabeça abaixada sobre um contrato, fazia que não ouvia.

- Psiu! - insistiu o vendedor - Ô, baixinho! Baixinho!!!

Alziro foi se irritando, mas continuou fazendo-se de surdo.

- Psiu! Ô, baixinho!!! - gritou o vendedor.

Alziro não se agüentou:

- Baixinho é cú de sapo!

E o vendedor, sem se dar por achado:

- Ô, cú de sapo! Já saiu o financiamento do Néco Silveira?

Foi aquela gargalhada geral.

Galo Velho, que me contou esta história, morre de rir até hoje.