A LAMPARINA DE QUEROSENE

 

Major Gercino, município catarinense, tem esse nome em homenagem a um major do exército, falecido em 1950 e que era filho do lugar. Foi uma maneira bastante original de homenagear o filho ilustre e aproveitar o nome antigo da vila que era conhecida simplesmente por Major.

No tempo em que Major era apenas uma vila, aí por 1945, nas ribanceiras do rio Tijucas, perto do Salto, morava um casal formado por Mané Sôza e a Letinha, como eram conhecidos.

Formavam um casal típico. Ela cheia de corpo, sem ser gorda, ele magro e esmirrado. Ambos de média estatura. Letinha era faceira, gostava de dançar e de ir a festas. Mané não era muito chegado a divertimentos desse tipo. Gostava mais de jogar dominó com os amigos aos domingos,  na cancha de bocha do Adelino.

Donos de um pequeno pedaço de terra na beira do rio, Mané e Letinha plantavam milho, batata-doce, abóbora, aipim, cana e feijão. No pasto, ao redor da casa, duas vacas de leite, duas novilhas, um tourinho e dois bois carreiros, raspavam dia e noite os restos minguados do pequeno pasto. No chiqueiro, dois porcos na engorda e no cercado uma porca prenhe do cachaço do vizinho. Algumas galinhas e um galo, completavam a criação.

A alimentação do gado era complementada por Mané com olhas de cana e capim que diariamente eram cortados na beira do rio e espalhados ao longo da cerca que fazia divisa com o vizinho, também Manoel, que morava sozinho num rancho bem próximo.

A maior parte do tempo, Manoel, o vizinho, ficava morando no rancho, enquanto cuidava das lavouras do pai que morava na vila a uns 5 quilômetros.

A casa do casal, de madeira, constava de dois quartos pequenos, uma sala, uma cozinha e uma varanda, virada para a estrada. Nos fundos do terreno ficava o chiqueiro, distante uns 50 metros da porta da cozinha e próximo à cerca do vizinho ficava a privada, construída de madeira sobre um buraco fundo cavado na terra vermelha e coberta de tábuas. Suas dimensões eram de aproximadamente um metro por um metro e o acento era uma caixa de madeira com um buraco redondo no meio. A porta se abria para fora e era fechada com uma tramela.

O dia inteiro de trabalho, pegava sempre o casal muito cansado e, por isso, logo depois da ceia, Mané ia dormir e logo roncava.

Letinha ainda ficava um tempo na cozinha, à luz de lâmpada de querosene, lavando a louça, varrendo a cozinha e a varanda. Depois, costumava sentar numa cadeira na varanda, as pernas erguidas sobre a balaustrada, que alma viva alguma havia na redondeza para ver-lhe as coxas de fora e a calcinha por entre a saia erguida, isto quando estava de calcinha, indumentária  difícil por aquelas bandas naquela época.

Totalmente à vontade e relaxada, Letinha mal sabia que seu vizinho costumava espiá-la protegido pela escuridão e pela cerca de casqueiros (costaneiras).

Manoel, o vizinho, socava aquela punheta e andava louco para comer a vizinha, mas cadê coragem?

Aos domingos, Mané ia à missa e depois ficava lá pela vila com os amigos, na cancha de bocha, jogando dominó. Letinha voltava correndo para casa para preparar o almoço: galinha ensopada com aipim e arroz. Uma delícia de se lamber os bigodes.

Lá pela uma da tarde Mané chegava e ia logo sentando e atacando a galinha com aipim e arroz. Uma colherada após a outra, numa seqüência de incrível rapidez e Mané estava arrotando e limpando os dentes com palito de pressão.

- Vou voltar lá pra praça e jogar um dominozinho, Letinha. Até logo.

E lá se foi o Mané e Letinha ficou só com sua louça, sua cozinha por arrumar e o tédio. Seu marido já ia longe.

Assustou-se ao ouvir um barulho de passos na direção da varanda.

Era seu vizinho Manoel.

- Boa tarde, dona Letinha, como vai a senhora?

- Vou bem.

- Dona Letinha, eu precisava de um favor da senhora. Será que a senhora não tem um pouco de açúcar grosso pra me emprestar? O meu acabou e eu não fui pra casa do meu pai porque tinha umas coisas para fazer aqui no sítio. Amanhã eu devolvo.

- Mas entre, seu Manoel e abanque-se – disse Letinha, um sorriso nos lábios.

Manoel, o vizinho, entrou e sentou-se no banco junto à mesa da cozinha.

Letinha foi até a prateleira do armário e ficou na ponta dos pés para pegar a lata com açúcar.

Manoel deu uma boa olhada nas pernas e na cintura de Letinha e seu desejo exacerbou-se.

Letinha virou-se com a lata na mão e seus olhos caíram imediatamente no volume que armava a calça do vizinho. Ficou vermelha, mas não conseguiu tirar os olhos, nem baixa-los, digo, ergue-los,  e foi com lata e tudo para cima do vizinho, que, armado como estava, desabotoou a calça e não teve o trabalho de tirar-lhe a calcinha inexistente.

As pernas se abriram e Manoel a penetrou já gozando e sentindo o piscar do orgasmo generoso de Letinha.

Não deu nem tempo e ambos se soltaram, cada um sentido uma forte dor na virilha.

- Meu Deus, se alguém vê – disse Letinha assustada.

Manoel não disse palavra, abotoou as calças e saiu correndo, pulou a cerca e foi para o rancho. Esqueceu do açúcar.

A lata estava caída no chão e o seu conteúdo espalhado.

Letinha, ainda tremendo, mas feliz como um passarinho, limpou o gozo com a própria mão e foi lavá-la na bica. Sentiu a gosma grudenta não querendo sair de sua mão. Passou sabão e lavou-a bem lavada.

Depois voltou para a cozinha e juntou todo o açúcar derramado. Não ficou uma gotinha sequer.

Letinha estava feliz.

Mané, também. Chegou em casa contente.

- Ganhei seis partidas de dominó. Turma de rolhas!

A necessidade busca soluções. Sempre foi assim.

Estuda aqui, estuda aí, Manoel, o vizinho, notou que a privada dos vizinhos ficava bem perto da sua cerca e que era muito fácil pulá-la por trás dela, sem que alguém visse.

Na primeira oportunidade, comunicou seus planos a Letinha.

- Letinha, de noite, depois que o Mané tiver ido para a cama, você vem na privada e a gente se encontra aqui.

- Mas meu marido vai desconfiar...

- É, parece que vai... Mas como é que vamos fazer?

- Eu tenho uma idéia, Letinha. Tu pedes pro teu marido que fique na porta da cozinha e segure a lamparina de querosene bem alta pra iluminar o caminho até a privada, que tu tens medo de ir no escuro. Ele não vai enxergar nada porque estará na claridade da luz. Não é assim que vocês sempre fazem?

- É mesmo! Boa idéia – disse Letinha entusiasmada e já sentindo um líquido escorrer entre as pernas. – Hoje à noite a gente experimenta. Se der certo, a gente está feito. Se não der, você se esconde atrás da privada e depois pula a cerca de volta.

Manoel já estava com a cueca toda melada. Voltou para casa e esperou passar a eternidade até que seu vizinho foi dormir.

Não perdeu tempo. Pulou a cerca atrás da privada e ficou esperando. Garganta seca.

De repente, uma luz apareceu na porta da cozinha e ele vislumbrou  dois vultos. Um deles distanciou-se e depois parou.

- Ergue mais a lamparinha, Mané

A luz se ergueu.

O outro vulto continuou em direção à privada.

Manoel sentiu o cheiro de Letinha.

Os dois se atracaram. Letinha sentou-se com as pernas bem erguidas, oferecendo tudo a Manoel que lhe fez as honras:Enfiou tudo lenta e firmemente.

Letinha gemeu alto.

Mané gritou lá da porta:

- Não te disse, Letinha, pra não comer tanto queijo que dá dureiro?

Letinha gemeu de prazer. Manoel gozou e se mandou.

Letinha voltou feliz para a cozinha.

Mané foi dormir resmungando qualquer coisa sobre o consumo exagerado de queijo.

Depois daquela noite, Letinha e Manoel viciaram.

Toda noite Mané segurava a lamparina e a Letinha ia trepar com o vizinho, até que um dia, quando menos esperavam, na hora em que Letinha se preparava para ir para à privada, deu uma dor de barriga em Mané e ele teve que correr para a latrina, bem na hora que o vizinho, em jejum sexual há vários dias, já estava esperando.

Bem que Letinha tentou impedí-lo, indo antes, mas Mané foi categórico:

- Segura a lamparina aí na porta, para eu ir. Estou muito apurado! Depois tu vais.

Letinha ergueu a lamparina. Mané andou depressa, calças já ao meio das pernas. Foi agarrado, de súbito, por traz por Manoel, que pensou ser Letinha.

Mané deu um urro assustado e borrou-se todo. Já estava de calças abaixadas, tal era a urgência. Voltou correndo para casa esbaforido, fedendo e balbuciando palavras ininteligíveis.:

-Um la... um la... um la... drão, Letinha

Mané pegou a espingarda e ficou na porta da cozinha apontando a arma para a escuridão, sem coragem de afastar-se da porta e da luz fraca da lamparina de querosene:

- Letinha, acho que alguém está querendo roubar as nossas galinhas. É bom a gente começar a trancar bem o galinheiro. Puta, que susto!

Quem se deu mal foi o vizinho, que, sem ser reconhecido, pulou a cerca de volta e depois passou a noite tentando lavar o fedor da sua roupa.

Letinha, tremia de nervosa.

Mané, sem desconfiar de nada,  pensou que ela tremia de medo do ladrão.