O DESCONFIADO

 

 

 

Um alemãozão lá de São Francisco, em Urubici, um dia foi até a cidade de Lages, distante 110 quilômetros, a fim de uns negócios. Era conhecido como Miguelão, mais pelo seu avantajado tamanho que por sua esperteza.

Concluídos seus negócios e como naquele dia não havia mais ônibus para Urubici, resolveu ir para a zona de meretrício, na década de 60 um dos orgulhos de Lages. Era fácil de ir lá. Ficava logo atrás do cemitério.

Miguelão foi. Separou algum dinheiro para as despesas e guardou o resto dentro da meia, por baixo da sola do seu pé 44.

Entrou numa casa, entrou noutra. Mais noutra. Em todas, aquele mundo de mulher. Cada uma mais linda que a outra. Todas encantadas com Miguelão.

Rondou de um lado para outro. Entrou em outras casas e foi parar na melhor delas, a boate do Mário, célebre pela quantidade de mulheres bonitas e pela limpeza.

Miguelão entrou e ficou meio desnorteado com as luzes coloridas. Piscou diversas vezes para se acostumar com a penumbra e acabou divisando uma mesinha vaga em frente a uma poltrona de dois lugares. Sentou aí, junto com sua timidez.

Num dos cantos do amplo salão, umas quinze mulheres, cada uma mais linda que a outra, cada uma mas maquiada que a outra, aguardavam que alguém as convidasse para dançar ou para beber e ou para o que desse e viesse.

Na pista de dança, diversos casais dançavam com lindas mulheres que se contorciam eroticamente, rostos colados, braços enlaçando pescoços, pernas esfregando coxas.

Miguelão estava embevecido. Aquilo era um sonho. Nunca tinha visto tanta mulher bonita de uma só vez e todas muito apetitosas.

O garçom veio e Miguelão pediu uma cerveja casco escuro.

- De preferência, uma Faixa (Antarctica) de Joinville. - falou com ares de entendido no assunto.

O garçon voltou logo em seguida e depositou a cerveja pedida sobre a mesinha.

– Quanto é? – perguntou Miguelão.

O garçom falou o preço. Miguelão se assustou com o preço mas pagou e começou a tomar. Achou a cerveja cara, mas bem que podia dar-se ao luxo de umas cervejinhas. A safra de tomate tinha sido muito boa e o dinheiro estava mais fácil aquele ano.

Olhou para o outro lado da sala e viu encantado uma linda morena que não despregava o olho dele. Botou o olho nela, e veio um sorriso. Tornou a olhar e a morena levantou-se e veio ao seu encontro.

Miguelão quase desmaiou diante de tanta beleza.

A morena sentou-se ao seu lado, dengosa:

– Oi, amor! De onde você é? Daqui mesmo?

Miguelão deu-se ares de importância, respirou fundo  e respondeu:

– De Brusque. – lembrando-se do costume então existente de dizer que alguém tinha ido para Brusque, sempre que se ignorava seu paradeiro.

A morena aconchegou-se. Miguelão quase desmaiou, inebriado pelo perfume, pela maciez da pele e pelo calor da morena.

– Paga uma cervejinha p'ra mim, amor – miou, esfregando-se mais, os seios macios, provocando seu braço cabeludo. Arrepiado, Miguelão, engasgou:

– ...Pago.

A mulher fez um sinal e o garçom atendeu solícito:

– Uma cervejinha? – adivinhou, enquanto largava uma ficha sobre a mesa que a mulher fez desaparecer rapidamente.

A mulher aquiesceu.

A cerveja veio gelada e apetitosa.

A mulher tomou rápido e pediu outra.

Miguelão pagou. Ela pediu outra, mais outra e mais outras.

O diabo da mulher bebia mais que Miguelão!

– Puta diabo! – pensou – essa mulher acaba comigo! Nunca vi beber tanto!

Resolveu acabar com aquela gastança inútil:

Vamos para o quarto? – arriscou tímido.

A mulher cifrou o preço, enquanto mostrava o generoso decote.

Miguelão novamente se engasgou com o preço e com o decote. Encheu-se de coragem e aceitou. Mas sabia que teria que tirar a meia e recorrer ao seu conteúdo.

– Mas, vá lá. É só hoje – pensou.

Uma hora depois, estavam ambos de volta.

Miguelão, meio atordoado, beijou rapidamente a morena na boca e tratou de ir-se. Satisfeito, dormiu com algumas pulgas no pequeno hotel próximo à rodoviária.

De manhã cedo pegou o ônibus e voltou para Urubici, faceiro da vida, a morena povoando sua satisfação e sonhando já em retornar noutra oportunidade.

No domingo seguinte, foi à Missa, que naquele dia o padre José tinha ido rezar a missa em São Francisco.

Encontrou-se com os amigos. Todos agricultores e todos tomando cerveja.

– Pena que não tenha cerveja "Faixa de Joinville" – falou um deles.

– Por falar em "Faixa de Joinville", aproveitou Miguelão, esta semana estive em Lages, aproveitei e estive na boate do Mário. Lá havia uma mulher que só bebia "Faixa de Joinville". Tomou mais de meia dúzia de garrafas. Nunca vi nada igual. Mas vocês precisavam ver o mulherão que era. Morena, bem alta, magra, cheirosa... macia!...

-.Foi aí que eu estranhei a coisa. A mulher me beijou todinho.Mas todinho mesmo! Eu fiquei louco!!!... Só estranhei que na hora de transar ela se debruçou sobre a cama e fez questão de que eu metesse por trás...

Os amigos se entreolharam, se cutucaram, mas nada disseram.

Miguelão continuou:

- Sabe que eu estou desconfiado que transei com um veado?

Tem amigo do Miguelão rindo até hoje.