FÉRIAS PAROQUIAIS

 

 

Quem não necessita de férias?

Esta pergunta, hoje, tem resposta unânime: - Todo mundo precisa de férias.

Mas não era bem assim no início da década de 60.

O Padre vigário não podia tirar férias, ao menos na opinião da maioria das pessoas das cidades do interior.

Acostumados com as lides campestres, bastante rudes e cansativas, os habitantes de Urubici, pequena cidade do planalto catarinense, não ficavam atrás.

Em que pese a hospitalidade, a simpatia e as atitudes invariavelmente amigas do povo daquela região; não obstante a profunda religiosidade daquela gente, ao padre vigário da paróquia, não era dado o direito de férias.

Mas Padre José, homem inteligente e experto; líder, não só religioso, mas também político, administrava com rara eficiência os bens da paróquia e influía decisivamente nos pleitos políticos locais, sempre fez o que achou que devia fazer, inclusive, tirar férias.

Combatido por uns, suportado por outros, admirado por sua inteligência e rapidez nas respostas, anualmente tirava férias.

Querido pelos jovens, vivia rodeado por eles e muitas foram as lições inesquecíveis que ele lhes deu.

Certa vez, cercado que estava por um grupo de rapazes, perguntou a um deles:

- Você pode provar que é homem?

- Posso, sim, Padre – respondeu o rapaz de uns 18 anos – é só baixar as calças e a prova vai aparecer.

Alguns riram.

Padre José ficou sério e falou:

- Se baixares as calças vais provar apenas que és macho, nunca que és homem. Burro, cavalo, porco, cabrito, estão sempre mostrando as provas de sua macheza. Seriam eles homens?

O jovem baixou a cabeça envergonhado. Nunca mais esqueceu esta lição e agora a  está passando aos leitores.

Assim era o Padre José. E tirava férias.

Todo ano, depois do Ano Novo, ia para Armação, na Penha, em companhia da secretária, (a mulher do Zé do Padre),  dos filhos dela, umas crianças lindas e de algum vigário de cidade vizinha, obviamente, acompanhado por sua secretária. As más línguas aproveitavam para falar mal do padre e das pessoas que com ele viviam. Era pura maledicência, pois eram excelentes pessoas e de moral inatacável.

As férias eram de 30 dias. Depois, padre José voltava e continuava nas suas lides religiosas e de administrador dos bens da Mitra Diocesana sob sua responsabilidade.

Foi no ano de 1962, em janeiro.

Padre José tinha ido para a praia e a igreja ficara por conta da religiosidade das pessoas da Praça.

Todo domingo, na falta da missa, o pessoal, inclusive os jovens,  se reunia e rezava o terço do rosário, cantava as velhas canções religiosas e depois ficava conversando em  rodinhas perto da igreja.

Próximo ao meio dia, dispersavam-se, cada um indo para sua casa, ou para algum bar, tomar uma cerveja, ou um sorvete.

Um grupo de quatro rapazes, todos eles estudantes em férias, reuniu-se no Bar da Praça, onde ficou maquinando traquinagens.

Foi do premeditado nessa reunião, que na manhã do domingo seguinte, as pessoas que chegaram à igreja para rezar o terço viram uma enorme placa, amarrada às grades da casa paroquial, com os seguintes dizeres em letras enormes: “ALUGA-SE A CASA PAROQUIAL ATÉ QUE A SAGRADA FAMÍLIA VOLTE DA PRAIA”.

As velhotas beatas ficaram estarrecidas, mas a maioria adorou a piada.

O terço do rosário foi rezado com muito pouca devoção e elevada dose de risadinhas, que na igreja era pecado rir alto.

Mas quando o padre voltou...

Foi o diabo!

Gente, precisavam ver o sermão, as diatribes e anátemas lançados contra os malfeitores, gozadores, que devem estar-se rindo até hoje.