FESTA DE CASAMENTO

 

Urubici, 1963.

Zezinho era noivo de uma linda morena, moradora do povoado de Vacas Gordas, 20 km distantes do centro de Urubici.

Filha de fazendeiro abastado, o casamento seria um acontecimento e foi.

Zezinho convidou todos os seus colegas que com ele trabalhavam na Florestal, mais um considerável número de amigos e companheiros de farras, boemias, serenatas e outras coisas mais.

Galhofeiro e folgazão fazia amizade com a maior facilidade e era querido por todos.

Em Urubici corriam muitas histórias a seu respeito, todas elas cercadas de situações hilariantes.

Uma delas, dá conta de que Zezinho adquirira uma alergia que fizera de sua bolsa escrotal um saco de brotoejas. Zezinho não mais se coçava: arrancava os pentelhos com as unhas, tal era a coceira.

Foi aconselhado pelos amigos, a procurar o padre Ludovico, conhecido por suas mesinhas curativas. Sabia-se que o padre, alemão de sotaque carregado, cursara medicina na Alemanha, antes de tornar-se sacerdote e emigrar para o Brasil.

Zezinho contou seu problema a um amigo, conhecido pelo apelido de Magro, que com ele trabalhava na Florestal e convidou-o para acompanhá-lo na visita ao padre.

Um sábado nublado à tarde, ambos procuraram o padre.

Foram recebidos em seu quarto, uma ampla peça que era mais sala de estar e cozinha que qualquer outra coisa. Os móveis eram simples e rústicos, mas de muito bom gosto.

Zezinho, timidamente contou ao padre o sua aflição:

- Padre, me surgiu uma alergia aqui nas partes, a coceira está muito forte e não tem nada que dê jeito nela.

Magro, se mordeu para não rir das partes do Zezinho. Sentado ao lado, ficou fungando como se tivesse sido acometido por uma forte e pigarrenta tosse.

Padre Ludovico mandou Zezinho baixar as calças até os joelhos e examinou-lhe a genitália, da mesma maneira como qualquer médico o faria.

- É só passarrr uma pouquinha de crrreme e isso logo fai ficarrr pom – diagnosticou o padre.

Foi até uma prateleira no canto da sala e de lá voltou com um frasco contendo um creme branco.

Sentou-se bem em frente ao Zezinho, que de pé, sem saber onde pôr as mãos, olhava meio sem jeito para Magro que mordia os lábios para não rir, derramou um pouco na palma da mão direita e começou a aplicar-lhe o creme na bolsa escrotal, na virilha e no pênis.

O notável era que a alergia estava localizada no saco e na virilha e não no pênis. Mas o padre passava uma vez a mão no saco outra na virilha do Zezinho e umas cinco vezes no pau dele. Resultado: uma enorme ereção e o Zezinho jorrando lágrimas dos olhos para não gozar na mão do padre. E o padre passava mais creme e intumescia a bochecha com a sua língua. A Magro, aquilo pareceu como se o padre estivesse com um cacete na boca. E Zezinho olhava para o teto, revirava os olhos...

- Cruz, credo, padre não faz essas coisas – arrependeu-se Magro.

O Zezinho agüentou bravamente a ereção e não gozou na mão do padre.

Terminado o curativo, o padre pegou um palito e com ele fez uma dobra no prepúcio de Zezinho, de forma que a glande ficou exposta.

- É parrra terrr mais higiene e não criarrr sujeirra  debaixo.

- E vou dobrarrr o seu prrrepúcio também, disse a Magro que recusou rapidamente a gentileza.

Tudo isso ocorreu num ambiente da maior seriedade.

Zezinho puxou as calças por sobre seu pênis agora sem chapéu e ambos despediram-se do padre e saíram porta afora.

Ao por os pés na rua, ambos tiveram que se sentar no chão para dar gargalhadas, ainda mais que agora o Zezinho tinha o pau careca.

Mas como dizíamos, o casamento do Zezinho foi uma festa e tanto. Muito vinho, muito churrasco, muita galinha assada, muito doce.

A festa durou a tarde inteira.

À noite, naquela época, a única diversão era o cinema. E em Urubici havia um ótimo cinema que ficava abarrotado aos sábados à noite.

Lá estavam o Magro, a Noemi, o Zé Lino com a Judite, sua mulher, o falecido Lico com a namorada esperando apagarem-se as luzes e começar o filme, quando entram no cinema, ninguém menos que o Zezinho e a noiva. Ele todo cheio de pose, mão no ombro dela, ela simples e bonita. Ela meio sem jeito, ele todo risonho, dando uma de gostoso, como quem diz:

- Pra quê tanta pressa?

O Zé Lino cutuca o Magro:

- Já viu o filho da puta? Esnobando todo mundo! Em vez de ir comer a noiva, está aí esnobando a gente!

Cochicha com o Lico e depois todos se levantam e saem sorrateiramente do cinema.

No dia seguinte, aí pelas dez horas da manhã, o Zezinho andava à cata do Ze Lino, do Magro, do Lico e da corja toda, jogando verde pra colher maduro.

Todo mundo na maior inocência, ninguém tinha entrado na casa nova do Zezinho, construída numa colina, pintada de verde; ninguém havia trancado a porta da entrada da sala com o pesado fogão a lenha que foi tirado da cozinha e para lá transportado e depois pregado as janelas e a porta da cozinha.

Ninguém, todo mundo muito inocente.

Assim que ele virava as costas era aquela farra, principalmente porque o Zezinho chegara em casa com a noiva, pegara-a no colo, e não conseguira entrar em casa. Só entrou depois de arrombar a porta da cozinha, enquanto a turma permanecia escondida atrás de uma cerca a uma distância prudente.