A
PROCISSÃO DE SANTO ANTÔNIO
Urubici, no alto da Serra Geral, é uma pequena cidade, encravada num magnífico vale ladeado por montanhas de arenito e por florestas que já foram, em sua maioria, de pinheiros.
Seu povo, de origem italiana, alemã, portuguesa e leta, cultiva suas tradições de origem, principalmente as religiosas.
É um povo extremamente hospitaleiro, alegre e cordial. É um prazer visitar a pequena cidade.
Foi assim que aí por volta de 1960, na Esquina (bairro da cidade, distante três quilômentros do centro), realizava-se anualmente a tradicional novena de Santo Antônio que consistia, entre outras cerimônias, na realização de uma procissão com um trajeto não superior a 500 metros, que ia da igreja da Esquina até a descida do Zeferino Salvador, passando em frente ao Hotel Anderman, ao bar do Mussolini e ao posto de gasolina do Ossi.
Todos acompanhavam a procissão: homens, mulheres, crianças, de todas as idades.
Foi numa dessas procissões que Itamar, funcionário do escritório da Cia. Florestal de Santa Catarina, de propriedade do Governador Celso Ramos, estava carregando a imagem de Santo Antônio com alguma dificuldade de equilíbrio, visto que antes da procissão tomara umas três "bagas" no bar do Nonóca. Mas ia se saindo até bem.
Mussolini, que, além de dono de bar era seu maior freguês, também tinha tomado umas quantas doses de branquinha com amargosa, resolveu ajudar Itamar no transporte da imagem do Santo.
- Deixa que eu ajudo – falou para Itamar, com voz pastosa.
- Não precisa – retrucou Itamar.
- Me dá o Santo aqui – Tu estás muito bêbado. - insistiu Mussolini.
- Quem está bêbado és tu – irritou-se Itamar.
Mussolini tentou agarrar a imagem, mas Itamar, mais rápido, não permitiu. Saltou para trás, ergueu a imagem com as duas mãos e gritou:
- Sai daqui, Mussolini, se não, te dou com esse diabo na cabeça!
João Ozol, letão vivido, que nada tinha a ver com a procissão, pois não era católico, mas a acompanhava entre curioso e divertido, saltou a tempo de livrar Mussolini da cacetada desferida por Itamar e livrando a imagem de ser despedaçada pelos litigantes.
E a procissão prosseguiu entre ave-marias, pai-nossos e risadinhas.