NÃO FECHA A ROSCA

 

Em 1961, trabalhar na filial de Urubici, da Cia. Florestal, sem dúvida alguma, era muito divertido.

O gerente, era o “seu” Pereira, cabelo branco, porte atlético, 60 anos. Ficava o dia inteiro andando de jipe entre a Esquina e a Praça de Urubici e as más línguas deitavam e rolavam a respeito disso.

O João Pedrini, era o chefe da oficina.

O Salvador Rosário, o ferreiro.

O Itamar, era encarregado de contar a madeira.

O Ademir e o Zezinho e o Alemão eram mecânicos. E dos bons.

O Arlindo era torneiro mecânico.

O Magro, cuidava do escritório e do acessório de peças para os caminhões e serrarias.

Havia mais toda uma família formada por motoristas, ajudantes serradores, empreiteiros, etc...

Palavrão era o que mais se ouvia.

Um dia, em que se formava uma trovoada daquelas, com raios e trovões para todo lado, um dos mecânicos, com a paciência esgotada pelos três dias de tentativas para fazer pegar o motor de um caminhão International K5, ajoelha-se no chão, ergue os braços para o céu e grita:

- Meu Deus! Tanto raio caindo por aí, e não cai um em cima do diabo deste motor!

Foi nego se jogando no chão pra todo lado, para debaixo dos cominhões, das pilhas de madeira.  Alguns se benziam. Blasfêmia! Meu Deus, como é que pode? Será que Deus não castiga?

E o mecânico, nem aí.

Ao meio dia, depois do almoço, formavam-se bolinhos. Fumava-se, contavam-se piadas, faziam-se principalmente gozações. Às vezes, alguns mais eruditos, tentavam ensinar alguma coisa aos outros.

Arlindo, o torneiro, era um deles. Lia Seleções do Reader’s Digest e sempre tinha algo de interessante para contar aos outros.

Um dia falou para a roda:

- Vocês sabiam que as plantas que se seguram nas outras plantas com filamentos que se enrolam, como a parreira de uvas, no hemisfério norte se enrolam para um lado e no hemisfério sul para outro?

E o Zezinho Nazari, prontamente:

- Quer dizer, então, que se um cachaço do norte pegar uma porca do sul, não vai fechar a rosca?

(Para quem não sabe, o ógão reprodutor dos porcos tem o formato de trado, instrumento de forma helicoidal com que se fazem furos.)

Foi uma gaitada só e o Arlindo, aborrecido, levantou-se e foi cuidar das porcas e parafusos que fazia no torno mecânico, com esmerado cuidado e rara competência.